Entretenimento

Ex-marido da viúva de Adriano alega ter sido coagido por bicheiro: ‘Ela tem que dizer que o marido era um louco’

O miliciano e ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega com Júlia Lotufo na Bahia, em 2019 Reprodução

Antes da recusa da delação premiada de Júlia Emília Mello Lotufo, seu ex-companheiro, o empresário Eduardo Vinícius Giraldes Silva, acusou o contraventor Bernardo Bello de coagi-lo. É o que consta no depoimento que Giraldes prestou à Justiça como testemunha de Júlia, quando ela ainda mantinha uma união estável com ele. Ela é viúva do miliciano e ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto num suposto confronto na Bahia, com agentes da polícia baiana.

Para tentar se livrar de um processo que responde por organização criminosa e lavagem de dinheiro, Júlia tentou uma colaboração premiada com o Ministério Público do Rio (MPRJ), na qual faria revelações sobre as supostas ligações do então companheiro com o crime organizado. No entanto, o MPRJ rejeitou o acordo há um ano, por perceber inconsistências em seu relato.

Segundo Giraldes, Bernardo o procurou por intermédio de um advogado, que marcou um encontro entre os dois. Na conversa, o empresário contou que o bicheiro lhe dava exemplos do que Júlia teria que falar aos promotores durante as tratativas para a delação. Outra informação prestada no depoimento do empresário foi a de que havia um delegado da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), responsável justamente por investigar organizações criminosas, que receberia propina do contraventor.

— Quando houve (o pedido de) prisão (preventiva) dela (Júlia), em março, foi uma surpresa para gente. Começou um burburinho daqui e dali dizendo que o Bernardo iria me matar porque eu estaria pagando os advogados dela (Júlia). Não sabia se ele (Bernardo) era preto, branco, gordo, magro, bonito ou feio. Um advogado me procurou umas cinco ou seis vezes, ou até mais, e me contou a mesma história: “que o Bernardo iria me matar, que eu era um filho (sic), que a Júlia tinha que se (sic)” — relatou Giraldes reproduzindo a conversa que teve com o advogado durante seu depoimento na audiência do processo de Júlia, ocorrida no ano passado, na 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa.

Troca sucessiva de advogados de Júlia Lotufo

No decorrer do processo da viúva de Adriano, houve cinco trocas de advogados: Délio Lins e Silva, Demóstenes Torres, Márcio Archanjo, Antonio Higino e George Hidasi. Foi o advogado Demóstenes, ex-senador que iniciou o processo de colaboração da viúva de Adriano. No dia 10 de fevereiro, encerrou-se a fase de alegações finais da defesa, o que representa que o processo está no fim aguardando a decisão da Justiça.

Júlia chegou a ter sua prisão preventiva decretada, após a 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa aceitar a denúncia contra ela feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ. Ela chegou a ficar foragida, mas como Superior Tribunal de Justiça (STJ) converteu a preventiva em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, a viúva de Adriano da Nóbrega se apresentou à Justiça. Atualmente, a única medida cautelar que Júlia cumpre é a de não deixar o país. Seu passaporte inclusive foi confiscado por ordem judicial.

Empresário foi procurado em casa por contraventor

 

Giraldes revelou em seu depoimento que o advogado ligado à Bernardo Belo esteve em seu apartamento, no condomínio à beira-mar Ocean Front, na Barra da Tijuca, em junho de 2021, pedindo para que ele se encontrasse com o contraventor naquele mesmo dia.

— O advogado dele (Bernardo), foi na minha residência, 10h, e me falou: ‘ô cara, é melhor você se encontrar com ele, senão será pior’. Eu disse: ‘pior por quê? Eu não tenho nada a ver com isso’. (Ele respondeu:) ‘Melhor você se encontrar’. Eu disse: ‘tá, eu vou pensar’. Eu não queria me encontrar (com ele). Quando foi por volta da 4h e pouca, 5h, ele voltou e disse que eu teria que me encontrar com ele. Eu falei: ‘Tá, se eu tenho que me encontrar, senão para mim vai ser pior, que seja no meu condomínio, porque a Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) está lá em casa’. Eu me sentiria mais seguro — relembrou a testemunha da ex-mulher à Justiça.

Na época, o então secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, havia determinado que a Core desse proteção à Júlia 24 horas por dia. Turnowski alegou que a corporação se sentia responsável por qualquer coisa que acontecesse à Júlia, uma vez que foi ela quem teria procurado a corporação para fazer a delação. A viúva de Adriano foi levada como testemunha ao MPRJ pela Polícia Civil.

Entre as exigências para o encontro com Bernardo, conforme o depoimento de Giraldes, havia o compromisso de não levar celulares, para que não fossem gravadas as conversas.

— Eu saí com meu carro. Quando eu saio, dou de cara com cinco pessoas armadas. Eu volto desesperado para casa, achando que era alguma coisa (emboscada), quando a Júlia me falou: ‘Não, eles estão lá embaixo’. Aí eu desço e entro no carro dele (Bernardo). Eu digo: ‘Poxa, Bernardo, eu não te conheço, e realmente estão falando que você quer me matar por causa disso, isso e isso’. Ele fala: ‘Não’ — recordou-se, explicando que o contraventor negou que queria matá-lo.

Bernardo teria pedido a Giraldes para viúva não fazer delação

Giraldes prossegue, afirmando ao Juízo que Bernardo lhe pediu que convencesse Júlia a não fazer a delação:

— ‘Não, porque ela não pode falar isso, não pode falar aquilo. Ela tem que dizer que o marido dela (Adriano) era um louco, um lunático, um maluco, que ela não sabe nada’. (Ele estava) praticamente me coagindo. E eu não sabia o que falar. A única coisa que me veio à cabeça foi dizer que gastei x com advogados, (que) só quero me livrar disso e pegar o passaporte dela. Até soou mal, porque eu estava me tremendo todo, com medo — disse Giraldes. — Ele (Bernardo) falou que tinha casa em Portugal. Ele sabendo que eu tinha imóvel e empresa em Portugal. Ele falou o que ela tinha que falar e o que eu não tinha que falar — afirmou o empresário, que disse ter se sentido coagido.

Até o fato de a Core estar dentro do condomínio do casal foi questionado por Bernardo, segundo o companheiro de Júlia. Giraldes lhe respondeu que não sabia a respeito. O empresário relatou à Justiça em tópicos o teor da conversa com Bernardo dentro do carro dele, no condomínio de Giraldes:

— Ele falou de Portugal, o que a Júlia tinha que falar, falou do presidente, falou sobre a Core(…). Foi aí quando eu falei: ‘Pô, Bernardo, você é um garoto novo, tem uma situação financeira boa. Você deve ter a mesma idade que eu. Eu tenho 41 anos, você deve ter 40. Você tem só dois, poxa, dois caminhos na sua vida’. Aí ele mesmo diz: ‘a morte ou a prisão’. ‘Poxa, e você quer isso?’ Eu falei: ‘Há uma semana mataram o Ecko (Wellington da Silva Braga, miliciano morto em ação da Polícia Civil em 12 de junho de 2021)’. Quando eu falo esse nome, ele fica desconcertado. Começa a se mexer na cadeira (banco do veículo). Vai para lá, vai para cá — disse ele dando detalhes de encontro.

O empresário voltou a falar sobre coação. Disse que Bernardo fala que morar em Portugal é bom, que ele iria gostar de lá, mas que Júlia tem que falar que Adriano era louco.

— Que ele deitava na cama e só falava ‘oi’ com ela (Júlia), que ela não pode falar de nada, que soube de nada da vida dele. Falou isso: louco, maluco, lunático, me passando o que a Júlia teria que falar. Isso daí é uma coação.

Giraldes admitiu que tem medo de morrer

 

— A gente quer a nossa vida de volta, sem risco de vida. (Tenho) medo de que nossa porta estoure toda hora. Dormir 4, 5 da manhã com medo. Não poder ir à varanda com medo de um tiro. Tentar ter minha filha de volta, para ela poder frequentar a minha casa. Quando a gente fala de Portugal, não é que a gente queira fugir para Portugal. Eu tenho imóveis em Portugal, eu tenho empresa em Portugal que já é de um projeto de vida meu. A Júlia que se enquadrou no meu projeto de vida — concluiu seu depoimento, prestado pouco tempo antes de se separar de Júlia.

Segundo ele, ao retornar o contato com o EXTRA, ele não é mais casado com Júlia:

— Desfiz minha união estável judicialmente (com Júlia). Por favor, me desvinculei disso. Já me trouxe muita dor de cabeça.

Extra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo