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Permissão de explorar petróleo no Alasca ilustra paradoxo de política climática dos EUA


As ONGs lançaram uma campanha contra o projeto Willow que recolheu mais de 3 milhões de assinaturas e denunciam uma catástrofe para o clima.
© Getty Images / Agence France-Presse

Embora tenha prometido não autorizar novas perfurações de petróleo em terras federais, o presidente norte-americano, Joe Biden, deu seu acordo na segunda-feira (13) a um projeto de extração no norte do Alasca, que deve emitir 280 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 30 anos, apesar da intensa mobilização de ambientalistas. Uma decisão que ilustra os paradoxos da política climática dos Estados Unidos.

Para ambientalistas americanos, a decisão representa uma traição. Apesar das campanhas organizadas por eles contra o megaprojeto petrolífero Willow no norte do Alasca, o presidente dos Estados Unidos deu o sinal verde à empresa ConocoPhillips para a realização de diversas perfurações nesta região, particularmente afetada pelo aquecimento global.

Criticado por seu impacto catastrófico no meio ambiente, o projeto é, no entanto, apoiado por parte da população local, que o vê como um ganho financeiro significativo e um desdobramento benéfico em termos de empregos. Dividido entre a defesa dos interesses econômicos e a do clima, Joe Biden finalmente aprovou três áreas de perfuração, contra as cinco inicialmente solicitadas pela empresa.

A polêmica em torno do megaprojeto no Alasca começou em 2017. Após a descoberta de grandes jazidas de petróleo no noroeste do estado, a empresa ConocoPhillips anunciou um projeto de extração visando atingir até 180 mil barris por dia. O problema é que a área em questão, composta por terras federais que levam o nome enganoso de Reserva Nacional de Petróleo do Alasca, é na verdade um vasto território selvagem considerado um refúgio de paz para a biodiversidade e, em particular, para as aves migratórias.

Além disso, a zona está localizada no Ártico, duramente atingido pelos efeitos das mudanças climáticas. “O Alasca aqueceu duas vezes mais rápido que o resto do país, o que teve repercussões consideráveis”, alertam pesquisadores do Programa Federal de Pesquisa em Mudanças Globais (USGCRP) em um relatório, citando como exemplo o desaparecimento de espécies silvestres e o ressurgimento de incêndios florestais.

Foto aérea de 2019 fornecida pela ConocoPhillips que mostra um campo de perfuração exploratória no local proposto para o projeto de petróleo Willow na costa norte do Alasca. (ConocoPhillips via AP, Arquivo)
Foto aérea de 2019 fornecida pela ConocoPhillips que mostra um campo de perfuração exploratória no local proposto para o projeto de petróleo Willow na costa norte do Alasca. (ConocoPhillips via AP, Arquivo) © ConocoPhillips / via AP

Batalha judicial

Em 2020, o presidente Donald Trump deu aprovação à ConocoPhillips para três locais de perfuração. Mas três organizações de defesa do meio ambiente entraram com ações judiciais e, em agosto de 2021, conseguiram a interrupção do projeto sob a alegação de que seu impacto sobre os ursos polares não havia sido devidamente avaliado.

No início de fevereiro, o Escritório de Gestão do Território, agência americana que administra terrenos públicos, publicou uma nova análise ambiental do projeto, novamente favorecendo a opção de três locais de perfuração, finalmente aceitos por Joe Biden.

Durante a campanha eleitoral, o presidente americano criticou repetidamente o ceticismo climático de Donald Trump e prometeu não autorizar novas perfurações de petróleo em terras federais. Mas o projeto da ConocoPhillips desperta forte entusiasmo no Alasca, que passa por grandes dificuldades econômicas e cuja renda provém, em grande parte, da indústria do petróleo. Seus defensores também insistem na importância de assegurar a independência energética do país no contexto da crise provocada pela ofensiva russa na Ucrânia.

“Sinto que o povo do Alasca foi ouvido”, disse Mary Peltola, representante democrata do Alasca, na segunda-feira, após o anúncio da decisão. “O Estado do Alasca não pode arcar sozinho com o fardo de resolver os problemas do aquecimento global”, acrescentou.

“Bomba climática”

Para convencer ambientalistas, o governo americano anunciou que está trabalhando em proteções adicionais para uma grande área da Reserva Nacional de Petróleo. Ele também anunciou que queria proibir permanentemente a perfuração do Oceano Ártico, na fronteira com a reserva.

Mas foi em vão. As ONGs denunciam as contradições da política de Joe Biden, que em agosto promulgou um plano de €370 bilhões para a transição energética, enquanto continua investindo em combustíveis fósseis.

“Apesar da liderança histórica do presidente sobre o clima, seu legado agora incluirá a aprovação de uma bomba climática que garantirá décadas de emissões de gases de efeito estufa, já que se espera que o mundo se afaste dos combustíveis fósseis”, disse Karlin Itchoak, diretor regional sênior da Wilderness Society para o Alasca.

“Willow é uma traição terrível”, acrescenta a presidente do think tank The Climate Center, Ellie Cohen, estimando que só o projeto emitiria 280 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 30 anos, o equivalente à introdução de quase 2 milhões de novos veículos à gasolina por ano.

Nas últimas semanas, uma onda de vídeos contrários ao projeto invadiram a rede social TikTok, enquanto uma petição online coletou mais de 3,3 milhões de assinaturas. Várias organizações já sugeriram considerar uma nova ação legal para bloquear o caminho para o projeto Willow.

(RFI e AFP)

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