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Irã: jornalistas que divulgaram morte de jovem curda durante custódia são condenadas à prisão

A Justiça iraniana condenou duas jornalistas a sete e seis anos de prisão por terem ajudado a divulgar a morte de Mahsa Amini durante sua detenção para interrogatório, em setembro de 2022, acontecimento que provocou um amplo movimento de protesto contra o regime ultraconservador do Irã e manifestações em vários países.


Manifestantes protestam por ocasião do aniversário de um ano da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em Roma, em 16 de setembro de 2023.
 AP – Mauro Scrobogna

As jornalistas Elaheh Mohammadi, 36 anos, e Niloufar Hamedi, 31 anos, estão detidas na prisão de Evin, em Teerã, desde o final de setembro de 2022. Elas foram encarceradas poucos dias após a morte de Mahsa Amini, curda iraniana de 22 anos.

No final do julgamento, realizado a portas fechadas desde o dia 29 de maio, Elaheh Mohammadi, repórter do jornal Ham Mihan, foi condenada a seis anos de prisão por colaborar com os Estados Unidos, cinco anos por conspirar contra a segurança do país e um ano por propaganda contra a República Islâmica, anunciou neste domingo (22) a agência Mizan Online.

Julgada separadamente, a fotojornalista Niloufar Hamedi, 31 anos, do diário reformista Shargh, foi condenada a sete anos de prisão por colaborar com os Estados Unidos, cinco anos por conspirar contra a segurança do país e um ano por propaganda contra a República Islâmica, acrescentou a mesma fonte.

De acordo com a lei iraniana, aplica-se a sentença mais pesada. Embora o veredicto possa ser objeto de recurso num prazo de até 20 dias, os advogados das duas jornalistas não haviam se manifestado até o meio-dia de domingo.

Niloufar Hamedi foi presa menos de uma semana após a morte de Mahsa Amini, quando foi ao hospital onde a jovem estava sendo tratada e postou uma foto da família em luto nas redes sociais. A jovem curda havia sido presa em Teerã pela polícia de moralidade por violar o rígido código vestimentar da República Islâmica, que exige que as mulheres usem véu em público. Já Elahe Mohammadi foi à cidade natal da jovem, em Saqqez (oeste), para cobrir seu funeral.

“Cooperação” com os Estados Unidos

No primeiro dia de seu julgamento, Niloufar Hamedi disse ao tribunal que havia “feito seu trabalho como jornalista dentro da lei e não havia cometido nenhum ato contra a segurança do Irã”, de acordo com comentários relatados por seu marido, Mohammad Hossein Ajorlou, nas redes sociais.

As famílias e advogados da jornalista criticaram o Judiciário por não poderem comparecer aos julgamentos. ONGs internacionais que defendem jornalistas, como a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), também se mobilizaram para exigir sua libertação.

Em agosto, os tribunais iranianos explicaram que os dois julgamentos não estavam relacionados com o caso Amini, mas com a “cooperação” com o “governo hostil dos Estados Unidos”, por meio da ONG United for Iran, com sede na Califórnia.

A República Islâmica não tem relações diplomáticas com Washington e considera os Estados Unidos como seu inimigo declarado. O advogado das duas jornalistas, Mohammad Ali Kamfirouzi, foi detido por mais de três semanas no início de janeiro, antes de ser libertado sob fiança.

Além disso, o advogado da família de Mahsa Amini, Saleh Nikbakht, foi condenado em 17 de outubro a um ano de prisão por “propaganda” contra o Estado depois de “falar com a mídia estrangeira e local sobre o caso”, de acordo com sua defesa.

Várias centenas de pessoas, incluindo membros das forças de segurança, foram mortas durante os protestos no final de 2022. Outros milhares foram presos por participarem de manifestações descritas pelas autoridades como “motins” orquestrados por países ocidentais. Sete homens foram enforcados em conexão com as manifestações.

A mídia iraniana informou em agosto que mais de 90 jornalistas haviam sido perseguidos em várias cidades iranianas pelas autoridades desde os protestos.

(Com AFP)

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