Economia

“Superquarta”: o que esperar dos juros no Brasil e nos Estados Unidos

“Superquarta” é o termo usado no mercado financeiro para o dia em que coincidem as divulgações das taxas básicas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. É o caso deste 20 de setembro de 2023, data na qual tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) quanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciam o resultado de suas reuniões, ambas iniciadas na véspera.

Atualmente, a Selic está em 13,25% ao ano, depois da redução de 0,5 ponto percentual anunciada no último encontro do Copom, no início de agosto – foi o primeiro corte de juros pelo BC em três anos, desde agosto de 2020. A taxa básica permaneceu em 13,75% por um ano, entre agosto de 2022 e agosto de 2023.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

Ao reduzir a Selic, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

No acumulado de 12 meses, até agosto, a inflação no país foi de 4,61%. Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é 3,25%. Como há intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%.

“Será um corte de 0,5 ponto percentual. Não há nenhum sentido lógico eles mudarem o ritmo agora, com base nos indicadores que norteiam o Copom nessas decisões, principalmente a inflação”, afirma Hugo Queiroz, especialista em investimentos e diretor de Corporate Advisory da L4 Capital. “A inflação brasileira está em patamares mais confortáveis, com um núcleo bem mais ameno do que em um passado recente.”

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, também entende que “não há motivos para o Copom acelerar esse corte”. Além da inflação, diz Agostini, a questão fiscal continua no centro das preocupações da autoridade monetária. “O Copom deve continuar moderado. Está tudo bem ancorado. E o lado fiscal continua merecendo destaque, está no radar das preocupações. O Marco Fiscal foi aprovado, mas precisa entrar na pista para testar o seu desempenho”, diz o economista.

Ariane Benedito, economista da Esh Capital, também projeta uma nova queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. “A parcela doméstica da inflação, na qual está mais concentrada a inflação de serviços, está mais comportada, mas, ainda assim, acima da meta. É necessário que o BC não faça um afrouxamento muito grande neste momento”, avalia.

A grande dúvida em relação ao ritmo de cortes da Selic envolve a penúltima reunião do Copom neste ano, marcada para os dias 31 de outubro e 1º de novembro. Nesse encontro, em tese, há possibilidade de o BC aprofundar a redução dos juros básicos em 0,75 ponto percentual – a depender do avanço da pauta fiscal e do comportamento da inflação.

“Se continuarmos com uma desaceleração gradual da inflação, mês após mês, cada vez mais perto da meta, e tivermos o andamento da agenda fiscal, teremos um ambiente favorável a que o BC diminua os juros em 0,75 ponto percentual em novembro”, afirma Ariane.

Hugo Queiroz, da L4 Capital, é mais cauteloso e aposta na manutenção do ritmo de cortes pelo menos até o fim do ano. “Imagino que o BC vá reduzir 0,5 ponto percentual por mais algum tempo. Justamente por esse trabalho de gestão de expectativas que o BC tem feito, que ajudou a ancorar a inflação no curto prazo, imagino que eles não acelerem para 0,75 ponto percentual”, diz.

De acordo com a última edição do Relatório Focus, do BC, divulgada no início desta semana, a Selic deve terminar 2023 em 11,75% ao ano. Em 2024, segundo os analistas do mercado consultados pelo BC, os juros devem chegar ao patamar de 9% ao ano e, em 2025, a 8,5% ao ano. Os números estão em linha com as projeções de Queiroz (7,5% a 8% em 2024), Ariane (8%) e Agostini (9%).

O que fará o BC dos Estados Unidos

Antes de o Copom anunciar a taxa básica de juros da economia brasileira, por volta das 18h30 desta “superquarta”, o Federal Reserve divulgará a decisão tomada pelo Fomc sobre os juros nos EUA, às 15 horas (horário de Brasília).

Na última reunião do Fomc, os juros foram elevados em 0,25 ponto percentual, para um intervalo entre 5,25% a 5,5% ao ano – a maior taxa em 22 anos. A expectativa do mercado é que agora o Fed mantenha os juros inalterados, mas um novo aumento de 0,25 ponto percentual não está descartado para o encontro do colegiado em novembro.

Um dos principais efeitos da alta na taxa de juros nos EUA se dá sobre os ativos brasileiros, que se tornam menos atraentes para os investidores. Na prática, a elevação dos juros nos EUA incentiva a aplicação em papéis no Tesouro americano, que são considerados mais seguros. A aplicação em países de economia emergente, como o Brasil, é apontada como de maior risco por causa da instabilidade desses mercados. Com menos capital disponível, a chance de que as ações de empresas listadas na Bolsa brasileira sejam negociadas fica ainda menor.

Em linhas gerais, quando os juros sobem, os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA – que normalmente já seriam mais atraentes para os investidores – se tornam ainda mais vantajosos, o que gera um fluxo de investimento maior em sua direção.

O câmbio também é atingido pela escalada da taxa básica de juros pelo Fed. O maior volume de investimento nos EUA leva à valorização do dólar em relação a outras moedas, especialmente aquelas dos países emergentes. Se os investidores procuram outros mercados, a moeda americana entra no Brasil em menor quantidade; mais escassa, seu valor sobre o real sobe.

Dados divulgados na semana passada pelo Departamento do Trabalho do governo americano mostram que a inflação no país foi de 3,7% em agosto, na comparação anual, ante 3,2% do mês anterior. O resultado veio acima das estimativas do mercado. A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano.

“Os EUA, assim como o Brasil, estão fazendo o chamado pouso suave na economia. Havia preocupação sobre uma possível recessão nos EUA, mas o que temos visto, por enquanto, é uma resiliência muito forte do mercado de trabalho americano, assim como ocorre no Brasil. A diferença é que a inflação aqui está cedendo mais rapidamente do que nos EUA”, explica Alex Agostini, da Austin Rating.

“Nos EUA, a decisão será de estabilidade da taxa de juros. Eles devem reforçar o discurso da última reunião, de continuar acompanhando os indicadores de inflação e, principalmente, o mercado de trabalho”, afirma Agostini. “Deve vir estabilidade agora, depois vão analisar o cenário até novembro e, dependendo do comportamento do preço do petróleo, há chance de uma nova alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião.”

Ariane Benedito, da Esh Capital, também espera a manutenção da taxa de juros pelo Fed. “Na medição mês contra mês, estamos observando um processo de desaceleração da inflação. Entendemos que ainda não haverá uma sinalização de fim do ciclo de aperto monetário, o que deixa as portas abertas para o Fed fazer mais um ajuste de 0,25 ponto percentual até o fim do ano”, afirma.

Metrópoles 

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