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Pais de Navanly agradecem homenagens persistentes ao opositor russo, que desafiam o Kremlin

Os pais do opositor russo Alexei Navalny, que morreu na detenção em meados de fevereiro, agradeceram aos milhares de russos que continuam a prestar homenagens ao seu filho. O túmulo de Navalny em Moscou tem recebido multidões diariamente desde o enterro dele, há quase dez dias – em um sinal de força da oposição no país, apesar da repressão.


Túmulo de Alexei Navanlny, em cemitério ao sudeste de Moscou, recebe diariamente visitantes que deixam flores, velas e homenagens ao opositor russo morto em fevereiro. (03/04/2024)
 REUTERS – Stringer

“Nossa imensa gratidão e mais profundas saudações a todos que vieram e ainda vêm ao cemitério, aqueles que trazem flores, escrevem sobre Alexei, lembram de nosso filho e rezam por ele”, disseram os pais, em uma nota publicada neste sábado (9) pela viúva Yulia Navalnaia.

“Obrigado por se recordarem dele. Esta memória nos dá esperança!”, disseram Anatoli Navalny e Lioudmila Navalnaia.

Desde o funeral, em 1º de março, milhares de russos visitaram seu túmulo, coberto por uma montanha de flores, velas e mensagens, e continuam a ir até lá todos os dias para prestar suas homenagens. O cemitério fica ao sudeste de Moscou.

Após a morte do maior opositor do presidente Vladimir Putin, em 16 de fevereiro, em circunstâncias ainda não elucidadas em uma prisão no Ártico, a mãe dele teve de lutar durante vários dias com as autoridades para recuperar o corpo do filho e enterrá-lo.

A equipe de aliados de Navalny acusou o governo pela morte e de tentar encobrir os seus vestígios. O Kremlin nega.

Reação em plena eleição presidencial

Yulia Navalnaia, forçada a viver no exterior para evitar também ser presa na Rússia, prometeu continuar a luta do marido e pediu aos seus apoiadores para comparecerem às seções de votação em 17 de março, último dia das eleições presidenciais no país.

Uma esmagadora maioria dos russos apoia a reeleição do presidente. Mas as demonstrações de carinho a Navalny colocam em questão o discurso oficial do Kremlin e e evidenciam a resistência de uma tradição dissidente na Rússia contra poderes autoritários, o que já era observado sob o regime czarista e na antiga União Soviética.

O funeral do advogado, morto aos 47 anos, deu origem a impressionantes manifestações da oposição, com gritos de “Putin é um assassino”, “não à guerra” ou “os ucranianos são boas pessoas”.

As cenas de milhares de pessoas desafiando o poder vigente não eram vistas desde que Moscou enviou suas tropas à Ucrânia, no final de 2022. “Foi preciso coragem para prestar homenagem a Alexei Navalny. Não faltou isso a milhares de russos. O seu legado está aí. Memória eterna”, disse o presidente francês, Emmanuel Macron, na rede social X.

O perigo de homenagear Navalny

Para a analista política Ekaterina Schulmann, o registro destas multidões foi “extraordinário”. “À custa da sua vida e seu sacrifício, Alexei Navalny libertou a todos da vergonha, que é pior do que a morte”, disse ela em seu canal no YouTube. “Agora está claro que a unidade do povo supera as consequências desmoralizantes desta morte”, acrescentou.

Segundo um estudo do instituto Russian Field, 25% dos russos declararam-se tristes com a morte de Navalny, mas 53% disseram não sentir nada em particular.

Andrei Kolesnikov, pesquisador do Carnegie Russia Eurasia Center, avalia que as pessoas que homenagearam o opositor são “perigosas” para as autoridades russas. “Eles lançam dúvidas sobre o principal mito atual do Kremlin: a consolidação absoluta da nação em torno de Putin e seus compromissos”, diz ele.

“Tinha muito medo, mas às vezes o desejo de expressar minha posição é mais forte que tudo”, contou à AFP uma mulher de 49 anos que foi deixar flores no túmulo de Navalny. Antes de sair de casa, ela pegou uma escova de dente, absorventes e uma bateria, caso fosse presa.

Prisões

Desde 1º de março, quando o opositor foi sepultado, a polícia russa prendeu mais de 100 pessoas que participaram de homenagens ao opositor em 22 cidades, segundo a ONG de direitos humanos OVD-Info. As autoridades russas haviam exigido que o funeral fosse secreto, mas cederam à pressão por uma cerimônia aberta.

Após a morte do dissidente, cerca de 500 memoriais foram erguidos em sua homenagem em mais de 200 cidades da Rússia. “Sua morte horrorizou as pessoas”, disse a ativista Irina Putilova à AFP. “Espero que a morte do principal opositor do Kremlin faça com que os líderes estrangeiros percebam” que Putin “deveria ser tratado como um criminoso”, declarou esta moradora de Moscou.

Para o pediatra Grigori Sheyanov, foi possível observar “um sentimento de unidade” entre as pessoas que participavam de uma curta cerimônia ortodoxa em homenagem a Navalny em uma igreja .

“Algo vai mudar, especialmente a atitude das pessoas em relação à política. Haverá menos medo e mais determinação”, avaliou.

Com informações da AFP

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