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Ataques de Israel em Gaza matam dezenas de civis e Netanyahu é pressionado por plano pós-guerra

Há discórdia na coalizão israelense. Benny Gantz, membro do gabinete de guerra, ex-ministro da Defesa e rival político do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, apresentou um plano para uma mudança de estratégia a Netanyahu, que rejeitou o projeto. Gantz deu um ultimato e ameaçou renunciar, ato que não foi levado muito a sério pelos manifestantes anti-Netanyahu em protestos no sábado (18). Enquanto isso, neste domingo (19), um ataque aéreo israelense atingiu uma casa de família no campo de refugiados de Nouseirat, deixando pelo menos três dezenas de mortos.


Palestinos procuram vítimas presas sob os escombros de uma casa atingida por um ataque israelense, em meio ao conflito em curso entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas, no campo de refugiados de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza.
 REUTERS – Ramadan Abed

Não houve renúncia imediata, como alguns esperavam, mas houve um ultimato em Israel. O ministro Benny Gantz deu ao seu rival político, Benjamin Netanyahu, um prazo até 8 de junho para colocar em prática um novo plano estratégico que dê prioridade à libertação dos reféns. E para definir uma solução pós-guerra para Gaza.

“A escolha está em suas mãos, o momento da verdade chegou. É hora de tomar uma decisão. E você sabe muito bem o que tem que fazer. O povo de Israel o está observando e você deve escolher entre o sionismo e o cinismo, entre a unidade e a divisão, entre a responsabilidade e a inépcia. Entre a vitória e a catástrofe. Se você preferir o bem do país ao seu próprio bem, seremos seus parceiros na luta”, declarou Benny Gantz.

O governo está sendo pressionado por uma minoria extremista, afirma ele. Não foram tomadas decisões estratégicas para vencer a guerra e permitir o retorno dos reféns.  “Mas se vocês escolherem o caminho dos fanáticos e levarem a nação a um precipício, seremos forçados a deixar o governo. Nós nos voltaremos para o povo e estabeleceremos um governo que conte com seu apoio. Um governo que contará com uma união muito ampla para se consolidar e possibilitar uma vitória real.”

Benny Gantz, membro do gabinete de guerra e ex-ministro da Defesa, que é rival político do primeiro-ministro Benjamin Natanyahu, ameaçou renunciar caso não ocorra uma mudança no "plano de ação", e definições sobre a situação pós-guerra na Faixa de Gaza.
Benny Gantz, membro do gabinete de guerra e ex-ministro da Defesa, que é rival político do primeiro-ministro Benjamin Natanyahu, ameaçou renunciar caso não ocorra uma mudança no “plano de ação”, e definições sobre a situação pós-guerra na Faixa de Gaza. AP – Abir Sultan

“Precisamos mudar tudo”

Esse é um assunto que inflamou os ânimos nas manifestações de rua no sábado à noite (18). Para a manifestante Rachel Suissa, precisamos ir além do que Gantz está propondo. “Tenho certeza absoluta de que precisamos mudar tudo. Temos que mudar o governo, temos que mudar o que estamos fazendo, temos que retomar o país e o Estado e, acima de tudo, temos que acabar com a guerra”, diz essa manifestante.

Benny Gantz deve deixar o governo sem demora, disse Assaf Katz, outro manifestante. “Não acho que se possa confiar em Netanyahu. Ele deveria ter assumido suas responsabilidades e renunciado em 8 de outubro. Gantz deve se separar dele sem mais delongas e finalmente se tornar um líder”.

O ultimato de Benny Gantz foi imediatamente ignorado pelo primeiro-ministro israelense. “O plano que ele está propondo é simplesmente equivalente à capitulação na forma devida”, proclamou Netanyahu.

Na manhã deste domingo (19), analistas de imprensa acreditam que o ultimato apresentado por Benny Gantz visa, acima de tudo, ao seu próprio futuro dentro da coalizão política israelense e avaliam que sua saída do governo não colocará Netanyahu em risco.

A figura-chave ainda é o ministro da Defesa Yoav Gallant, que sozinho poderia derrubar o atual governo. E em Israel, Jack Sullivan, o conselheiro de Segurança Nacional do Presidente dos EUAdeve visitar o país neste domingo para discutir a continuação de sua ofensiva em Rafah.

Ofensiva israelense intensificada

O exército israelense intensificou seus ataques aéreos na Faixa de Gaza, um dos quais matou 31 palestinos no campo de refugiados de Nouseirat, de acordo com a Defesa Civil. Antes do amanhecer, um ataque aéreo israelense atingiu a casa da família Hassan no campo de refugiados. Fontes do hospital al-Aqsa e testemunhas afirmaram terem recebido “20 mortos e vários feridos” inicialmente. Número, atualizado em seguida para 31 mortos, incluindo crianças, foram retiradas dos escombros da casa.

No oitavo mês do conflito entre Israel e o Hamas, desencadeado por um ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino em solo israelense no dia 7 de outubro, os combates recomeçaram em Jabalia (norte), onde o Hamas recuperou um ponto de apoio, segundo o exército, e continuam em Rafah (sul).

Cerca de 800 mil palestinos foram “forçados a fugir” de Rafah, conforme informações da ONU, para se aglomerarem em Khan Yunis, mais ao norte, desde a ordem de evacuação israelense em 6 de maio.

No norte do território palestino sitiado e devastado, o hospital árabe Al-Ahli relatou três mortos em um ataque israelense a uma escola que abrigava pessoas deslocadas no leste da Cidade de Gaza.

Com informações do correspondente da RFI em Jerusalém, Michel Paul e AFP

 

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