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Haiti: ONU alerta para aumento do tráfico de armas; violência no país atinge pior nível em décadas


Policiais combatem gangues na capital haitiana, Porto Príncipe, em 3 de março de 2023.
© RALPH TEDY EROL / REUTERS

A Organização das Nações Unidas (ONU) está preocupada com o aumento do tráfico de armas de alto calibre em direção ao Haiti, na América Central, de acordo com um relatório divulgado neste sábado (4). Metralhadoras pesadas são importadas clandestinamente. Em 3 anos, o número de assassinatos quase dobrou no país, enquanto o de sequestros aumentou 17 vezes. As gangues armadas aterrorizam a população como nunca.

Há vários dias, a capital Porto Príncipe é palco de uma explosão da violência. Até bairros antes poupados agora estão sendo atacados por gangues armadas. Os bandidos matam, roubam e violam suas vítimas. Centenas de famílias abandonaram suas casas. Os grupos armados impedem a circulação de pessoas, construindo barreiras.

Em 48 horas, ao menos 80 sequestros foram registrados. Entre as vítimas, está o inspetor-geral da Polícia Nacional do Haiti, levado com sua filha, na sexta-feira (3), enquanto a acompanhava à escola.

Em condição de anonimato, uma moradora explica à RFI como a violência foi “normalizada” no país: “Assim que ouve os disparos, você se esconde e depois volta à vida normal”. Ela mesma testemunhou um sequestro, na sexta-feira. “De repente, houve muito tiroteio. Os bandidos chegaram de carro, encapuzados e fortemente armados. Fui tomada pelo medo e tive o reflexo de correr sob o tiroteio. Mas eu vi o sequestro”, diz. Depois de se refugiar em um prédio para recuperar o fôlego, ela partiu novamente.

Várias casas foram incendiadas e as gangues atacaram até delegacias de polícia. A mídia local denuncia a inação das forças de ordem. O aprovisionamento de comida e água potável já está prejudicado.

Relatório preocupante

Pistolas e até metralhadoras pesadas “estão sendo contrabandeadas”, “em um contexto de rápida deterioração da segurança e sem precedentes”, escreveu o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) sobre a situação no Haiti.

Há anos, o país caribenho enfrenta uma profunda crise econômica, de segurança e política. O assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021, agravou a situação.

O número de homicídios subiu de 1.141, em 2019, para 2.183, em 2022, e o de sequestros de 78 para 1.359, com as quadrilhas controlando mais da metade do território nacional.

O estudo da ONU “lamenta o efeito do tráfico nas múltiplas crises haitianas”. Para tirar suas conclusões, o UNODC se baseia em um recente aumento nas apreensões de armas de fogo, em relatórios de inteligência e decisões judiciais.

A organização da ONU realizou 45 entrevistas com lideranças políticas, agências de fomento, especialistas, membros da sociedade civil e também se refere a fatos relatados pela mídia.

O relatório deve ajudar a fornecer “apoio ao povo haitiano”, disse Angela Me, chefe do serviço de análise do UNODC, um escritório com sede em Viena, na Áustria, em um comunicado.

A maioria das armas vem dos Estados Unidos e primeiro transitam pela Flórida, onde membros da diáspora haitiana “muitas vezes cuidam de escondê-las em contêineres de itens rotineiros importados”.

Revólveres, vendidos legalmente por menos de US$ 500 nos Estados Unidos, podem ser adquiridos por até US$ 10.000 no Haiti. As gangues preferem fuzis AK47, AR15 e fuzis de assalto Galil.

As fronteiras porosas do Haiti, falta de recursos alfandegários e para a Guarda Costeira, que só tem um navio em funcionamento, corrupção e intimidação são apontados como os principais obstáculos a uma inversão dessa tendência.

O relatório conclui que “investimentos em policiamento comunitário, uma reforma da Justiça criminal e uma luta eficaz contra a corrupção são essenciais” para restaurar a segurança duradoura no Haiti.

(Com informações da RFI e da AFP)

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