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Entenda o que está em jogo na campanha para as eleições legislativas em Portugal

Portugal, que entrou oficialmente no domingo (25) em campanha para as eleições legislativas de 10 de março, poderá oscilar para a direita devido a uma onda de candidatos populistas e antissistema, após oito anos de governo socialista interrompido por um caso de tráfico de influências.


Outdoor do partido Chega instalado em frente da Assembleia da República portuguesa, com seu líder e candidato André Ventura.
 © Lúcia Müzell/ RFI

“O tema da corrupção, nesta situação europeia, favorece a direita radical”, nota o cientista político António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS). O assunto se tornou central devido às circunstâncias da demissão surpresa do primeiro-ministro António Costa, que não é candidato à reeleição.

Vários países da União Europeia, incluindo Itália, Eslováquia, Hungria e Finlândia, são liderados por coligações que incluem um partido de extrema direita. A Holanda também poderá se juntar a esta lista após a vitória de Geert Wilders nas eleições legislativas de novembro.

Em Portugal, que celebrará em abril o 50º aniversário da Revolução dos Cravos e o fim de uma ditadura fascista que durou 48 anos, a extrema direita demorou mais do que em outros países a abalar o cenário político, mas a teoria de uma exceção lusitana já foi descartada.

O jovem partido Chega, fundado em 2019 por um ex-comentador de futebol que tem um discurso crítico às chamadas elites político-econômicas, é creditado com 15 a 20% das intenções de voto.

Sem pacto com os conservadores

Nas eleições legislativas de janeiro de 2022, esta formação anti-imigração, mas não antieuropeia, já tinha sido elevada ao posto de terceira força política ao obter 7,2% dos votos e 12 eleitos em um Parlamento de 230 deputados.

O presidente do partido, André Ventura, membro do grupo Identidade e Democracia que reúne partidos europeus de extrema direita como o Reunião Nacional, da França, ou da Alternativa para a Alemanha, espera agora desafiar a hegemonia do Partido Social Democrata (PSD, centro-direita) dentro da direita portuguesa.

Liderado por Luís Montenegro, o principal partido da oposição continua, no entanto, melhor colocado que o Chega nas pesquisas, onde aparece com pontuações em torno dos 30% e uma leve vantagem sobre o Partido Socialista (PS).

À medida que a eleição se aproxima, as principais questões são se a centro-direita sairá realmente vencedora e até que ponto dependerá do apoio do Chega para governar.

Montenegro, que concorre em nome da Aliança Democrática (AD), formada por dois pequenos partidos conservadores, já descartou qualquer acordo com a extrema direita, esperando formar uma maioria estável com a ajuda da Iniciativa Liberal (IL).

Escândalo na esquerda

O sucessor de Costa à frente dos socialistas, Pedro Nuno Santos, já previu não obstruir a formação de um governo minoritário de centro-direita. Mas, segundo o analista António Costa Pinto, “o cordão sanitário contra a direita radical não está funcionando nas democracias europeias e Portugal será outro exemplo”.

“Esta crise foi causada por uma acusação do sistema judicial contra a elite política, o que representa problemas éticos muito importantes”, explica.

No poder desde o final de 2015, António Costa obteve uma vitória histórica nas eleições legislativas de janeiro de 2022, mas sua primeira maioria absoluta revelou-se muito instável.

Apesar de um mandato marcado pela consolidação das finanças públicas e pela relativa boa saúde econômica, seu Executivo sucumbiu a uma série de escândalos e demissões.

O último escândalo de seu governo foi uma investigação por tráfico de influência que visava um dos seus ministros e seu próprio chefe de gabinete, que tinha € 75.800 em dinheiro escondidos nas prateleiras de seu gabinete.

Envolvido no caso pelo Ministério Público, Costa renunciou, no início de novembro, afirmando que não buscaria um novo mandato.

(Com AFP)

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