Política

Ações do governo Lula em estatais e empresas assusta e afasta investidores estrangeiros; entenda

A intervenção governamental em empresas de capital aberto, como a estatal Petrobras e a mineradora Vale, está aumentando o descontentamento dos investidores em relação ao Brasil. Isso ocorre em meio a um contexto internacional em que a política de juros nos EUA e a incerteza sobre o ritmo de crescimento da China estão levando à retirada de recursos dos mercados emergentes.

Até o último dia 22, investidores estrangeiros retiraram R$ 21,2 bilhões da B3. As ações da Vale e da Petrobras já registraram quedas de 19% e 4%, respectivamente, este ano.

Analistas do banco de investimentos Goldman Sachs recomendaram aos clientes, em um relatório divulgado esta semana, a venda de ações de empresas estatais brasileiras e a compra de empresas privadas. Uma das razões para essa recomendação foi a recente intervenção na Petrobras – o governo vetou a decisão da empresa de pagar mais dividendos, que é uma forma pela qual empresas de capital aberto distribuem lucros.

“Tais eventos normalmente levaram a um prêmio de risco mais elevado para os ativos brasileiros”, diz um trecho do relatório do Goldman, assinado pelos estrategistas Jolene Zhong, Nathan Fabius e Caesar Maasry.

Investimentos Vale e Petrobras — Foto: Criação O Globo

Na semana passada, uma pesquisa de opinião envolvendo 100 agentes do mercado no Rio de Janeiro e em São Paulo, conduzida pelo instituto Quaest em colaboração com a corretora e gestora Genial Investimentos, revelou que o intervencionismo do governo na economia desponta como o principal risco no Brasil. O desequilíbrio nas contas públicas, antes considerado o maior motivo de preocupação para os investidores, agora fica em segundo plano.

De acordo com os resultados do levantamento, 97% dos entrevistados discordaram da decisão da Petrobras em relação aos dividendos, enquanto 89% expressaram a preocupação de que a intervenção na Vale pudesse resultar na redução dos investimentos estrangeiros no Brasil. Em janeiro, o Palácio do Planalto intensificou a pressão para indicar, sem sucesso, o ex-ministro Guido Mantega como CEO da mineradora. Após esses eventos, 57% dos entrevistados pelo Quaest afirmaram ter ajustado suas carteiras de investimento.

‘Encanto quebrado’

Segundo Silvio Campos Neto, economista sênior e sócio da consultoria Tendências, a intervenção na Vale e na Petrobras tem afetado o ânimo dos investidores estrangeiros, levando-os a retirar recursos do Brasil.

Os recentes acontecimentos envolvendo empresas de capital aberto minaram o otimismo desses investidores em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ao recordá-los de sua inclinação intervencionista, observou o economista.

Apesar disso, de acordo com análises feitas por especialistas consultados pelo GLOBO, o contexto internacional também influencia a saída de recursos dos investidores estrangeiros da B3 e a queda nos preços das ações – a intervenção do governo amplifica esse movimento.

No cenário global, houve uma revisão na percepção sobre a direção da política de juros nos EUA, afirmou Campos Neto. Agora, os investidores esperam que as taxas americanas permaneçam mais elevadas por mais tempo e que as reduções sejam mais graduais.

A expectativa de taxas de juros mais altas nos EUA tende a atrair investidores globais para o mercado americano em detrimento dos mercados emergentes.

— Os investidores globais passaram a reposicionar as carteiras de investimento à medida que entenderam que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) iria promover cortes mais lentos — disse Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.

Ao mesmo tempo, há preocupação com o crescimento da China, principal importadora global de matérias-primas. A perspectiva de um arrefecimento na demanda chinesa diminui o apetite de investidores financeiros por mercados de países produtores desses insumos, como é o caso do Brasil.

— Há preocupação com o crescimento da China e isso pode afetar a compra de commodities (matérias-primas cotadas internacionalmente), o que mexe com nossa Bolsa — explicou Campos Neto, da Tendências.

De acordo com Costa, da Toro Investimentos, o cenário deste início de ano é contrário ao do ano passado. Em 2023, houve saldo positivo nos fluxos de investimento financeiro do exterior, com entrada de capital. Isso também ocorreu em outros países emergentes.

Matheus Nascimento, analista da Levante, diz que a saída de estrangeiros é um dos fatores que pesam no desempenho “de lado” da bolsa este ano. O Ibovespa, principal índice de ações da B3, acumula, no ano, queda de pouco mais de 5%.

— A Bolsa é muito dependente de capital estrangeiro. Eles representam 54,6% do fluxo mensal — disse Nascimento.

Com informações de O Globo

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