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Operação contra “Lobo de Wall Street”: rapper foragido é preso na República Tcheca

Investigado no âmbito da Operação Difusão Vermelha, o rapper angolano Daniel António João, mais conhecido como Pluto, foi preso, nesta semana, na República Tcheca. A coluna Na Mira apurou que ele havia fugido pela Áustria — onde estava escondido desde o início da força-tarefa que desarticulou um esquema de fraude contra brasileiros no mercado de investimentos —, mas se entregou às autoridades tchecas.

O cantor era procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e, agora, aguarda o andamento do processo de extradição. O caso, revelado pelo Metrópoles, repercutiu em portais de notícias da República Tcheca.

Ao descobrirem ser vítimas do esquema — que, segundo as investigações da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), tinha Daniel João como braço direito do líder, o tcheco David Soukup, preso na Alemanha quando tentava fugir –, investidores que sofreram prejuízos por causa dos golpistas invadiram escritórios da empresa dos investigados, em Lisboa, e saquearam diversos itens.

Famoso na Europa e em países do continente africano como um rapper de sucesso, além de ter participado de um reality show assistido por milhões de pessoas semelhante ao Big Brother, Daniel João, era sócio da empresa Pineal Marketing, alvo de operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que desmantelou uma organização criminosa transnacional com sede em Portugal.

Ação internacional

O grupo aplicava golpes no Brasil e se inspirava no filme O Lobo de Wall Street para ludibriar as vítimas. Na madrugada de 7 de março, em Lisboa, as equipes policiais cumpriram, cinco mandados de prisão preventiva, com bloqueio de contas bancárias, sequestro de criptoativos e derrubada de sites.

Daniel João usava a lábia para ajudar a tocar os negócios ilegais da empresa, que havia montado um escritório de fachada em Portugal. O local era registrado como agência de publicidade, mas a verdadeira atividade era vender falsos investimentos na bolsa de valores, por meio de empresas fantasmas de corretagem.

O rapper ajudava a fazer uma espécie de ponte entre o líder David Soukup e os brasileiros empregados pela empresa. Daniel João ficou famoso em alguns países europeus e fez amizade com o chefão do esquema após participar do reality show. Em imagens inéditas obtidas pela coluna Na Mira, os dois fazem uma confraternização com funcionários brasileiros para comemorar as “conquistas” do negócio ilegal.

Assista:

No vídeo, enquanto David Soukup parabeniza os “selleres” — responsáveis por captarem as vítimas no Brasil —, o angolano se encarrega de traduzir as palavras do líder do esquema. Satisfeito com os lucros, o tcheco sorteia produtos da marca Apple para os campões de venda que conseguiram captar mais vítimas.

Falsas vendas

O call center da organização criminosa era distribuído entre quatro sedes e empregava centenas de brasileiros, geralmente imigrantes ilegais. A contratação exclusiva desse público decorria, também, da necessidade de pessoas que falassem português fluente, pois o grupo assediava e buscava seus alvos apenas no Brasil.

Os contratados para trabalhar no escritório tinham a função de ligar para brasileiros e oferecer opções de investimento. Os investigadores verificaram que o grupo usava todo tipo de argumento para convencer as vítimas a entrar no mercado de valores e fazer aplicações que supostamente gerariam altas rentabilidades com garantia.

Confira:

Enganadas, as vítimas começavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas, diferentemente do prometido, sempre perdiam tudo. Desesperadas, elas eram incentivadas a fazer novos investimentos, na esperança de reverter o prejuízo.

“Ocorre que os novos investimentos também geravam outras perdas, alimentando uma bola de neve. Depois de [fazerem as vítimas] perderem todas as economias e se endividarem ainda mais em bancos, quando não tinham mais um centavo para aplicar, os criminosos cortavam os contatos telefônicos, e elas ficavam sem ter a quem recorrer”, afirmou o delegado Erick Sallum, da 9ª DP, à época da Operação Lobo de Wall Street.

Páginas de fachada

Para dar aparência de legitimidade ao esquema e fazer as vítimas acreditarem que investiam em algo real, os criminosos montaram diversas páginas de empresas fictícias na internet; entre elas, Paxton Trade, Ipromarkets, Ventus Inc, Glastrox, Fgmarkets, 555 Markets e ZetaTraders.

Os sites eram bem estruturados, o que dava a impressão de pertencerem a empresas idôneas. As vítimas se cadastravam nas páginas e, depois, usavam um aplicativo para fazer os investimentos. No entanto, esses recursos financeiros nunca chegavam, de fato, ao mercado de valores.

O processo não passava de uma simulação. Todo o dinheiro depositado nas contas das supostas empresas era desviado para contas pessoais dos criminosos. As vítimas pensavam ter perdido tudo na bolsa de valores e muitas sequer sabiam que o esquema era um golpe.

“A investigação mapeou, ao menos, 945 pessoas, mas sabe-se que existem muitas mais. Foram encontradas vítimas que perderam R$ 1,5 milhão ou, também, todas as economias da vida. Alguns gastaram dinheiro que seria usado para tratamento de câncer de familiares, e outros, todo o dinheiro recebido de heranças. Diversas vítimas tiveram rompimento de casamentos e laços familiares. Várias [entraram] em depressão, com tendências suicidas”, acrescentou Erick Sallum.

Metrópoles

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