Belarus: Prêmio Nobel da Paz Ales Bialiatski é condenado a 10 anos de prisão
Belarus: Prêmio Nobel da Paz Ales Bialiatski é condenado a 10 anos de prisão
Um tribunal de Minsk condenou, nesta sexta-feira (3), a dez anos de prisão o ativista Ales Bialiatski, laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 2022 e uma importante figura no movimento democrático em Belarus, informou sua ONG.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, chamou de “escandalosa” a sentença de prisão contra o ativista bielorrusso. “A condenação de hoje é mais uma decisão ultrajante de um tribunal bielorrusso”, publicou Morawiecki em sua conta no Facebook.
“As autoridades [bielorrussas] tentaram repetidamente silenciá-lo, mas Ales Bialiatski nunca cedeu um centímetro em sua luta pelos direitos humanos e pela democracia em Belarus”, declarou ele, lembrando outros dois ativistas condenados.
Em um comunicado, a organização Viasna especifica que dois colaboradores de Bialiatski, presos como ele em julho de 2021 e julgados ao seu lado, Valentin Stefanovitch e Vladimir Labkovitch, foram condenados a nove e sete anos de prisão, respectivamente.
Um quarto acusado, Dmitri Soloviev, julgado à revelia depois de ter fugido para a Polônia, recebeu uma sentença de oito anos na prisão. Todos eles também foram condenados a uma multa de 185 mil rublos de Belarus (cerca de R$ 380 mil).
“Farsa”
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, classificou como “farsa” o julgamento contra Bialiatski. “O Prêmio Nobel da Paz Ales Bialiatski, junto com Valentin Stefanovitch e Vladimir Labkovich foram condenados hoje a longas penas de prisão apenas por seu compromisso com os direitos, dignidade e liberdade das pessoas em Belarus”, escreveu Baerbock em sua conta no Twitter. “A acusação e o procedimento foram uma farsa”, denunciou.
Esse veredito severo faz parte de uma nova série de processos direcionados a militantes, jornalistas e oponentes, incansavelmente reprimidos desde o movimento de protesto de 2020.
Esses protestos, desencadeados após a controversa reeleição do presidente Alexandre Lukashenko, sob suspeita de uma fraude maciça, foram marcados por milhares de prisões, casos de tortura, diversas mortes de manifestantes, sentenças pesadas e exílios forçados.
O ativista de 60 anos fundou e liderou a Viasna por anos, o principal grupo de direitos humanos a enfrentar o regime autoritário liderado desde 1994 por Lukashenko. Durante os protestos de 2020, a ONG desempenhou um papel fundamental na documentação de repressões e prisões contra os manifestantes.
Tikhanovskaia
Ales Bialiatski e seus colegas são acusados de terem receptado grandes quantias de dinheiro em Belarus e terem financiado ações coletivas que teriam gerado “grandes atentados à ordem pública”.
Após o veredito, a principal oponente no exílio, Svetlana Tikhanovskaya, derrotada nas eleições de 2020, denunciou uma “injustiça vergonhosa”.
Os três homens se declararam inocentes. Durante as audiências e o veredito, eles foram obrigados a permanecer algemados, com o tribunal se recusando a remover o dispositivo de segurança.
Bialiatski já havia passado quase três anos em uma prisão em Belarus, entre 2011 e 2014, depois de ser condenado em outro caso denunciado como de cunho político.
Belarus somava 1.461 prisioneiros políticos em 1º de março, de acordo com a Viasna.
Apoio de Moscou
Os ocidentais adotaram diversos pacotes de sanções contra Minsk como resposta às duras repressões às manifestações de 2020, mas o regime ainda se beneficia do apoio inabalável de Moscou.
Belarus concordou em servir como base de apoio para as tropas russas atacarem a Ucrânia em fevereiro de 2022. Mas o exército de Belarus, até agora, não participou diretamente dos combates.
Além desse julgamento para afetar a ONG Viasna, outros processos estão atualmente mirando militantes do movimento democrático em Belarus.
Jornalistas
Diversos jornalistas do site Tut.By, a principal mídia independente de Belarus, que permaneceram no país, estão presos e também estão sendo julgados. Eles são acusados, principalmente, de sonegação de impostos e de incentivo ao ódio e correm o risco de receberem penalidades muito severas.
Em fevereiro, um jornalista e militante bielorusso-polonês, Andrzej Poczobut, foi condenado a oito anos de prisão, o que gerou protestos em Varsóvia.
O julgamento dos três fundadores da mídia da oposição Nextna, que desempenhou um importante papel na eleição de 2020, também foi iniciado em meados de fevereiro. Dois deles estão sendo julgados à revelia, e o terceiro, Roman Protossevitch, foi repatriado à força para Belarus em maio de 2021, após o desvio para Minsk de um avião de passageiros onde ele estava a bordo.
Protossevitch concordou em colaborar com as autoridades, enquanto sua parceira, Sofia Sapega, que havia sido presa com ele, foi condenada a seis anos de prisão.
(Com informações da AFP)